Desde criança tenho uma atração por nuvens. Olhar o céu num dia claro, com aquelas nuvens gordas para mim é fascinante. Acho que, em parte, isso se deve ao fato de eu ter sido criada no interior, aonde ainda se tem tempo para ser contemplativo. E também porque nas cidades pequenas, na sua maioria com casas, parece que o céu fica mais próximo da gente, nos dando a oportunidade de reparar nele. Os edifícios nos afastam das nuvens. Tudo é maior, mais distante, até o céu.
Ontem, ao caminhar de volta para casa, me deparei com uma imensa nuvem no céu. Típica de verão. Nuvem enorme, cheia d’água, pronta para amenizar o calor tórrido. Fiquei olhando para ela enquanto caminhava. Cheguei em casa, e ela ali, estática, bem na minha frente, paradinha. Passado um tempo, saí novamente. Para minha surpresa a mesma nuvem continuava lá em cima, pesada, cinzenta, imóvel. Na hora pensei: “Mas como? Não mudou nada? A mesma nuvem que me acompanhou, não se mexeu.” Ora, sem vento como cruzaria o céu? Como se diluiria? Como? Por que as nuvens tem disso, são inconstantes, misteriosas, estão sempre em movimento, em transformação. Nos protegem e nos assustam, são pequenas ou gigantescas, são claras ou negras, e até coloridas, estão próximas ou somem de repente. Mas aquela nuvem resolveu ficar me esperando. Como um quadro emoldurado. Sem movimento, mas cheio de expressão. Mais adiante divaguei: então, para uma nuvem ser nuvem, ela precisa do vento, da brisa. O que é uma nuvem que não se move? Que não se dilui, que não se transforma, não se mistura, não se perde na imensidão? É uma nuvem que deixou de ser nuvem. Virou água, chuva. Acabou-se.
As nuvens tem esse mistério de nos lembrar que somos inconstantes, mudamos conforme os ventos sopram. Que somos frágeis, simples vapor vagando na imensidão. Que também somos gigantes, atravessando terras, oceanos, intempéries. Que a perfeição está na harmonia das nossas imperfeições. Alguém já viu uma nuvem quadrada, ou triangular? Que todos os dias nos renovamos com a inconstância dos mares, das brisas, dos ventos. Mesmo que seja para fazer o mesmo por séculos: rodar o céu sem saber aonde ele acaba.
E não esqueça: ter tempo para admirar as nuvens também faz bem à saúde!
Até mais!
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