Desde o dia que se recebe o diagnóstico de diabetes, mesmo que de um familiar muito próximo (filho, marido, pai, mãe, irmão) a lista de coisas absurdas e descabidas que se ouvesó aumenta. Eu já coleciono umas quantas pérolas. Seja por desconhecimento, medo, angústia, mesquinharia, ignorância, rabugice ou simples falta de educação, as pessoas conseguem, na tentativa de te consolarem ou consolarem elas mesmas, dizer coisas inimagináveis.
A coisa mais estranha que ouvi nesses anos convivendo com o diabetes da minha filha, foi dita por uma outra mãe, e detalhe, mãe de uma criança com diabetes tipo 1. Sim, não estamos livres de cair em nossas próprias armadilhas e sair soltando pérolas por aí. Enfim, ao conhecer esta mãe e saber que nós duas tínhamos filhas com diabetes tentei me aproximar e iniciamos uma conversa. Lá pelas tantas, ela me pergunta se eu tinha mais filhos. Respondo que sim, tenho um caçula. Ao que, rapidamente, pelo tempo de diagnóstico e idade do meu filho mais novo, ela calculou que ele veio depois do diabetes. Espantada, ela não se aguentou e disse: “Ah, eu não tenho coragem de ter outro filho depois do diabetes…”. Sinceramente, eu nunca pensei assim. Nunca tive esse medo. Mas para essa mãe, pensar na possibilidade de ter mais um filho com diabetes é algo assustador. Ok, cada um sabe a medida da sua vida e do que é capaz de suportar. Mas aproveito para dizer que o diabetes não faz escolhas por mim. E nem quero que faça pela minha filha. Não falo aqui de alimentação e cuidados com a saúde. Nesse quesito realmente não temos escolhas. Precisamos fazer o que deve ser feito. Nem em relação ao tratamento. A escolha é fazer e ponto. Falo aqui da vida e do que queremos dela. Do que somos e seremos. Com ou sem diabetes.
Assim como, a lista de pérolas a respeito do diabetes só aumenta, o número de pessoas que superam seus limites convivendo com ela cresce a cada dia. Conheço pessoas que não superaram nenhum limite físico, mas superaram medos e barreiras e se tornaram pessoas melhores depois do diabetes. Fazendo suas escolhas, escrevendo a própria história.