Desde quando recebemos o diagnóstico de diabetes nossa vida muda significativamente, em vários aspectos. Um deles é no quesito vaidade. Ele é um ponto profundamente modificado, ou que vai se modificando, ao desenrolar da caminhada nesse novo mundo diet. Como assim?? Já respondo. Quando você, ou alguém muito próximo, recebe o diagnóstico de diabetes, você é instantaneamente convidado a entrar de cabeça no mundo do cuidado pessoal. Ou no campo da saúde e bem estar. Ou ainda, na zona bem profunda de conhecimento sobre si mesmo, e o que importa nessa vida.
As possibilidades de mergulho em si mesmo são infinitas e bem diversificadas. Mas a verdade é a seguinte: o diabetes ao entrar na nossa vida nos convida, prontamente, a olharmos para nós, quem somos, o que queremos e como desejamos seguir vivendo. Bem direto, pontual e profundo. E olha que isso acontece instantaneamente, assim, num piscar de olhos, quando você se pega tendo que aplicar a primeira dose de insulina, ou a furar seu dedo para medir a glicemia ainda em choque no consultório do médico, ao mesmo tempo seu corpo e sua mente, e claro, seu coração, já começam a se preparar para uma mudança radical.
Eu disse lá em cima: o diabetes muda nossa vida. Altera nossas percepções, nossos gostos pessoais, nossos valores, nossas certezas, e nossos medos. O que antes passava batido, agora ganha importância, e o que era super valorizado, pode perder status. Agora, nesses quase quatro anos de mudanças depois do diagnóstico, o que mais ficou alterado na minha inquieta alma, foi a vontade de me cuidar, de saber o que é bom e faz bem para mim.
Não só o que é saudável e controla melhor a glicemia, mas o que eu gosto, o que eu prefiro, o que vale a pena. Antes as coisas eram mais superficiais, do tipo: “ah tá, que legal, tem cheiro bom, deve ser bom…”, ou “é barato, então vou levar dois!”, ou ainda, “vou comer só mais um pouco, amanhã faço dieta…”. Como era fácil se enganar, cair em ciladas.
O diabetes me tornou mais esperta, mais ligada nas coisas, mais responsável, comigo e com os que me cercam. Pesquiso, reflito, escolho com cautela, analiso, aprendi a esperar. E como recompensa (sim, temos direito a elas) aprendemos a nos cuidar, mas com prazer, e não por obrigação. E isso, sim, tem tudo a ver com vaidade.
Eu arriscaria dizer que, vaidade e diabetes são quase sinônimos. Sim, vaidoso é aquele que tem orgulho em si, sobre suas coisas, e que gosta de se cuidar. Não estou falando daqueles vaidosos que vivem para si, num mundinho fechado, como se fossem o centro do universo. Falo das pessoas que aprendem a se cuidar, a se conhecer, a escutar o corpo, que antes de medir a glicemia já percebem que estão com hipo ou hiperglicemia, que estão atentas ao físico e psíquico.
Que valorizam comidas saudáveis não só porque tem restrições com doces, mas porque sabem que é possível ser saudável comendo doces dentro da medida aceitável de cada um. E que essa decisão veio de dentro (do eu) e não de fora (dos outros).
Nessa linha de pensamento sigo dizendo: o diabetes muda muita coisa na nossa vida. Mas o diabetes não é tudo o que sou, ele não define minha vida. Ele é uma parte de mim. O diabetes pode ser grande ou pequeno. Somos nós que definimos o tamanho que ele vai ter na nossa vida. Não falo de aceitá-lo ou não.
Isso varia muito durante uma vida inteira. Somos feitos de fases. Falo sim de aprender a conviver. De saber que ele existe e que precisa ser controlado, cuidado, escutado. Eu posso cuidar e não aceitar, e posso aceitar e não querer cuidar, às vezes. Eu posso fazer todo o tratamento certinho e me sentir derrotado por ter diabetes, e posso não me cuidar muito bem e me sentir tranquilo com diabetes. Isso depende de como encaramos as coisas. Que peso o diabetes tem na nossa vida.
Hoje eu presto mais atenção em mim. Gosto de me cuidar, de preprarar refeições mais saborosas e naturais, usando produtos frescos e menos industrializados. Gosto de cuidar da minha aparência, do meu corpo, cabelos, unhas. O diabetes me ensinou isso. O diabetes pede isso da gente. Precisamos estar atentos a nós mesmos.
Devemos ficar mais sensíveis com nossas necessidades pessoais. Se tenho sede, se tenho fome, se estou cansado, se minha pele pede cuidados, se minha autoestima vai bem. O diabetes aguça nossos sentidos. Quase como um super poder, uma habilidade que a gente tinha adormecida e aos poucos vai desenvolvendo.
Eu disse lá em cima, no primeiro parágrafo: o diabetes muda nossa vida. Se para melhor ou pior, a escolha é sua. Eu já fiz a minha. Até a próxima que agora preciso me cuidar: tenho horário no salão de beleza…
Boa semana!!