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Diabetes: como eu aprendi a gostar dele

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O diabetes nos faz sentir coisas estranhas. No comecinho achamos tudo confuso.

Só pode ser um engano. Isso não está acontecendo comigo? Muito menos com meu filho!!! Que loucura toda é essa? Como é que eu vou aprender tanto em tão pouco tempo? E ainda viver por toda a vida assim? Depois, baixada a poeira, começamos a nos familiarizar. Mudamos nossso pensamento: isto é viável, dá para encarar. E algum tempo depois, quando a vida segue seu rumo, acreditem (ou não), tem dias que a gente até gosta. Sim!!! Que incrível isso!! Como posso dizer que é possível gostar do diabetes?!?! Gostar de viver com o diabetes!?! Acredito que o principal motivador desse gosto nusitado é o sentimento de apropriação. Porque o diabetes é nosso, habita nosso corpo, ou o de nossos filhos, se manifesta diariamente nas pessoas que mais amamos. Adquirido ou inesperadamente desenvolvido, por razões ainda desconhecidas, ele é nosso, por completo, nos seus diferentes tipos. Faz parte da nossa vida, do nosso íntimo, das nossas conquistas e dificuldades, do nosso DNA, da nossa existência.

Quando nos perguntam como estamos, sempre vem – implicitamente – junto a frase “como você cuida do diabetes?”. Foi daí que me surgiu toda essa história de gostar do diabetes. Ora, se eu preciso cuidar do diabetes, é por que preciso me envolver com ele, conhecê-lo, aceitá-lo, aprender suas nuances, suas armadilhas, teimosias, seus caprichos. Se preciso cuidar, é porque preciso dedicar meu tempo a ele. Assim como para alguém que precisa de carinho, de atenção, de zelo. Cuidar é mostrar-se atencioso, é envolver-se, doar-se. Por tudo isso, justifico meus sentimentos mencionados anteriormente: de que às vezes podemos nos sentir bem vivendo com diabetes, gostamos dele, e das mudanças que ele faz na nossa vida. Claro, que se pudesse não me preocupar com ele, preferia passar o dia sem pensar em glicemias, curtindo a vida despreocupadamente. Mas se tenho diabetes, ou cuido de alguém que tem, posso viver despreocupadamente também, mas com algumas responsabilidades a mais e com sentimentos bons no coração, também.

Hoje, se digo que não gosto do diabetes, para mim é estranho, pois parece que não gosto de algo na minha filha. Porque o diabetes está na vida da minha filha, todos os dias. Ela não é o diabetes, claro, mas ela tem diabetes e convive com ele. Acorda, estuda, brinca, dorme, cresce com ele. É assim, e será por um longo tempo. Então, como dizer que eu não gosto dele? Eu não consigo mais falar desse jeito. Falar que não gosto de algo que me pertence, que pertence a alguém que amo muito. O diabetes faz parte da nossa vida. O diabetes faz parte da gente. O diabetes faz a gente ser quem a gente é. Ele nos caracteriza, nos diferencia, nos transforma.

São poucos anos que aprendo e convivo com ele, comparado a tantas pessoas que convivem a décadas. Mas quem vive o diabetes sabe que cada ano parece ter mais que 365 dias. Tudo é tão intenso, transbordante, cheio de emoções. A prática diária que nos entregue.

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Eu não sei como é pra você, e tenho a certeza que só você pode saber isso. Ninguém deve dizer como você tem que se sentir, ou como pode ser fácil, ou difícil.

Viver com diabetes é uma experiência muito pessoal. Viver com diabetes não é só contar sua história de um jeito diferente, é refazê-la, dia após dia.

Um grande abraço…

Simone Del Fabbro Vollbrecht

Psicóloga e Educadora em Diabetes

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