Alguns eventos na vida nos ajudam a entender ou dar a real dimensão, para o que nem sempre conseguimos compreender. Minha filha torceu o pé esquerdo essa semana, brincando na casa de uma amiga. Nosso cenário atual é este: um pouco de dor, anti-inflamatório, uma tala até o joelho e um par de muletas como companhia. Quatro dias com o pé imobilizado. Deixei ela agora sentada no sofá olhando um filme com as amigas. Mas a qualquer solicitação tenho que estar de prontidão. Não consegue levantar sozinha, e se atrapalha toda para andar com as muletas. Para evitar mais uma queda, fico por perto, à disposição.
Ontem à noite, ajudando na caminhada até a cama, e no vestir a camisola, pensei: “Imagina ficar um mês assim?”. “Imagina ficar a vida toda assim?”. Muitos ficam. Sendo carregados por pais, amigos, familiares, cadeiras de roda, muletas. Em seguida, respirei aliviada. Nosso evento inoportuno é temporário, passageiro, pequeno. Sábado já estará saracoteando por aí, na casa das amigas.
O diabetes – crônico, permanente, diário, exigente, difícil, cansativo – virou uma barbada. Coisa fácil, pequenininha. Ora, é só medir, corrigir, aplicar e bora sair pra vida. Agora, depender de um par de muletas, de alguém que ajude você a caminhar, sentar, se vestir. Depender da disponibilidade e boa vontade dos outros (ela não saiu, e nem vai sair, de casa nesses dias, esperou que as amigas aparecessem). Aí sim, pesou. Entediou-se no sofá. Cansou de estar sentada. Poucas opções do quê fazer.
Sabemos que não é toda a comparação que vai trazer consolo para nossa vida. Vivências diferentes, percepções diferentes. Mas comparar, o que é demasiadamente humano, pode, em alguns momentos, nos ajudar a tolerar o intolerável. Aumenta nossa capacidade de aceitar o que nos cabe. E foi o que aconteceu. Ficar uns dias dependente da presença de alguém , só para levantar do sofá, nos fez enxergar que correr para corrigir uma hipo eventual, ou contar carboidratos em todas as refeições, é moleza. Precisamos disso de vez em quando. Acreditar que é simples, mínimo.
A experiência de conviver com o diabetes muda a nossa vida. Muda o nosso olhar. Uns dizem para melhor, outros para pior. Eu digo: para maior. Sim. Ora, eu ampliei minhas percepções, cresci em coragem, ganhei habilidades (antes adormecidas), tornei mais intensa
minha sensibilidade e escuta, fiquei mais emotiva (chorona, confesso!), ampliei minha capacidade de compreender as dificuldades dos outros, de aceitar que nem tudo dá certo sempre. O que me deixou mais calma, mais centrada, mais humana, mais viva.
Um bom final de semana!
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