Acompanhar o filho ou a filha numa consulta médica nem sempre é fácil. Primeiro, porque a frequência de consultas para quem tem uma criança ou adolescente em casa com diabetes tipo 1 é bem maior que a média das outras famílias. Segundo, nesses momento nos deparamos com valores (hipos ou hipers) e atitudes que escancaram nosso desempenho como cuidadores. Se a coisa vai mal, estamos administrando mal (cobranças, culpas), sobra para nós. Se a coisa vai bem, sentimos sempre que poderíamos estar um pouco melhor (mais cobranças)…Melhor era não ter diabetes, mas isso já é outra história.
Há poucas semanas minha filha decidiu trocar de médico. Ela não estava se sentindo acolhida pelo seu endócrino e decidiu que não iria mais nas consultas. Ou trocávamos, ou ela teria que ir a força. Nós ficamos na dúvida, afinal ela era paciente de um dos melhores endocrinologistas do Brasil, mas, para ela, ele não era tão bom assim. Respeitamos o pedido dela, afinal para quem vai ter que visitar um médico para a vida toda, é melhor que o faça com uma pessoa que lhe agrade. Essa troca, apesar dos medos que nós pais sentíamos, foi muito importante. Encontramos uma médica que acolheu minha filha e, já tendo muita experiência no assunto, teve a grande sacada de intimar minha pré-adolescente para os cuidados com o seu diabetes. Eu que estava de acompanhante na consulta fiquei de coadjuvante. A médica olhava no olho da minha pequena e perguntava tudo a ela. Como foi o diagnóstico, como ela se cuidava hoje, como ela se sentia, que tratamento ela usava…e minha filha adorou isso tudo! O que foi muito positivo. No final a médica disse: bem, na próxima consulta eu falo primeiro com a sua filha a sós, e depois você entra. E eu: certo combinado! Ah, e as anotações de glicemias e doses de insulina ela pediu que sejam feitas pela minha filha! Achei o máximo!!
Para quem tem um filho com diabetes tipo 1 desde pequeno, muitas fases serão vividas. Agora estou vivendo uma delas: a transição de criança para pré-adolescente. Não aqui em casa ou na escola, mas em relação às consultas médicas. Minha filha já é uma pré adolescente há algum tempinho, mas só agora foi tratada como tal por sua médica. Os profissionais da saúde que atendem esse público precisam se dar conta disso, senão vão dificultar essa relação, médico-paciente, ou pior, vão perder seus pacientes. E nós pais e mães também precisamos fazer esse movimento: admitir que nossos filhos podem, querem e sabem se cuidar. É só a gente dar espaço. Precisamos deixar que os médicos possam falar diretamente com eles, precisamos saber ouvir esse novo diálogo, estar ao lado sem se entrometer, sem dedurar, sem ser inconveniente. Se ficaram dúvidas, medos e angústias, converse depois, em separado. Ligue, marque uma consulta para você esclarecer seus anseios. Mas não deixe seu filho de coadjuvante.
É mesmo muito importante Simone que eles se sintam um pouco responsáveis por si próprios. Meu filho fez 10 anos, DM1 há um ano, nos tratamos no IEDE aqui no RJ, e desde novembro ele mesmo controla suas glicemias, suas insulinas, e também é responsável por suas anotações. Resolvi agir assim para que ele se sinta responsável por seu próprio corpo, e também porque “o amanhã a Deus pertence”, não sabemos até quando poderemos assessorá-los. É muito importante pra eles, pré-adolescentes, essa autonomia, também confiança. É muito legal ser coadjuvante, mas claro, como mães, nós sempre iremos conferir se tá tudo direitinho…