O açúcar é um risco à saúde. Estima-se que ele contribui com cerca de 35 milhões de mortes por ano, relacionadas à pressão arterial elevada, ao diabetes, à obesidade e à doença renal crônica. Estudos apontam que ele é tão tóxico quanto à cocaína e o tabaco. O consumo excessivo de açúcar seria responsável pela liberação de dopamina no cérebro, um neutransmissor que conduz à busca por prazer. Apesar de ser vital para a aprendizagem, memória e tomada de decisão, em excesso, leva ao vício. Sem falar na sua ação negativa sobre os mecanismos reguladores de saciedade, aqueles sinais que fazem a gente parar de comer naturalmente.
Uma outra pesquisa realizada na Universidade da Califórnia (Ucla) e divulgada na publicação científica Journal of Psicologhy mostra que ingerir grandes quantidades de açúcar (frutose e sacarose) pode dificultar a comunicação entre os neurônios, deixando o cérebro lento. No entanto, a pesquisa aponta que o consumo de ômega 3, presente em peixes e em algumas sementes, poderia minimizar o efeito nocivo. “Nossos resultados mostram que o que você come afeta o modo como você pensa”, diz Fernando Gómez-Pinilla, professor de neurocirurgia da David Geffen School of Medicine da UCLA e de biologia integrativa e fisiologia na Faculdade UCLA de Ciências e Letras.
Realizado com camundongos, o estudo mostra a relação entre a ingestão de altas doses de açúcar e o comprometimento das sinapses – ligações entre as células cerebrais que possibilitam o raciocínio. Os animais, divididos em dois grupos, foram alimentados durante seis semanas com xarope de milho com alta concentração de frutose (seis vezes mais doce do que a cana-de-açúcar) e apenas um dos grupos recebeu ômega 3.
Pesquisas anteriores revelaram como açúcar prejudica o corpo por meio do seu papel no fígado, levando à obesidade e ao diabetes. O presente estudo é o primeiro a descobrir como o açúcar influencia o cérebro. “Sabemos que o açúcar é o combustível do cérebro, essencial para seu bom funcionamento, mas o que a pesquisa demonstra é que, em excesso, pode ter um efeito devastador na função cerebral, com comprometimento dos mecanismos de memória”, considera o pesquisador.
“Estamos menos preocupados com o açúcar naturalmente presente em frutas, que também contém antioxidantes importantes”, explicou Gómez-Pinilla, que também é membro da UCLA Research Institute e do Centro de Pesquisas sobre o Cérebro. “Estamos mais preocupados com o açúcar em altas doses, que é adicionado aos alimentos industrializados como adoçante e conservante.
Os ratos foram divididos em dois grupos, ambos submetidos a uma dieta rica em frutose, mas o segundo grupo recebeu complementação de DHA – um tipo de ácido graxo presente no ômega 3.
Após um período de seis semanas, os pesquisadores puseram os ratos em um labirinto para que realizassem uma atividade que haviam aprendido antes dessas seis semanas: encontrar a saída. O primeiro grupo não conseguiu. Mostraram-se desorientados, sem coordenação e não acharam a saída. Já os que ingeriram DHA, , apresentaram alguma dificuldades em realizar a tarefa, mas acabaram encontrando a única saída existente, demorando mais do que a primeira vez.
Ou seja, açúcar em altas doses não turbina o cérebro, muito pelo contrário.
Um olhar mais atento ao tecido cerebral dos ratos sugere que o açúcar em excesso poderia bloquear a capacidade da insulina de regular a utilização do açúcar pelas células cerebrais, como forma de armazenar a energia necessária para o processamento de pensamentos e emoções.
“A insulina é importante no corpo para controlar o açúcar no sangue, mas, no cérebro, pode desempenhar um papel diferente, podendo perturbar a memória e aprendizagem,” disse Gómez-Pinilla. “Nosso estudo mostra que uma dieta rica em açúcar prejudica não só o corpo, mas também o cérebro. Isto é algo novo”, completou.