Aqui em casa não tínhamos nenhum artista da música, até minha filha se interessar em aulas de piano. Há quase dois anos ela toca e se apresenta com desenvoltura, graça e determinação. Mas isso começou há um tempo atrás, com aulas de violino. Dia desses, arrumando um armário, me deparei com o meu violino. Está parado no armário há uns quatro anos, sem uso, pobre coitado. Bem guardado, para quem sabe um dia, eu, ou outro alguém da família se interesse por ele. Foi adquirido quando nossa primogênita se encantou pela música, e optou pelo violino como primeira alternativa. Na época eu, convidada pela professora, embarquei nessa viagem musical e me vi tocando violino por uns dois meses. Foi uma aventura rápida, mas intensa. A professora propôs que mãe e filha aprendessem juntas o delicado instrumento. E nós encaramos o desafio. Mas tocar violino não é tão simples assim. Não é para qualquer mortal. Minha filha experimentou e não se encontrou, partiu para o teclado e hoje segue firme no piano. Eu, reconhecendo minhas limitações, retirei-me de cena. Deixando o pobre violino de lado.
Aprender violino, na fase adulta, exige muita paciência, dedicação, disciplina, sensibilidade. Exige um despreendimento da perfeição, exige uma tolerância com a repetição, com o recomeçar, refazer, de novo e de novo. O violino nos exige aceitar os erros. Não simplesmente, aceitá-los, mas reconhecê-los, antecipando-nos a eles. Como na afinação deste delicado instrumento: é tocando e escutando que saberemos se está no ponto certo, se a corda está na tensão adequada para produzir a nota perfeita.
Nesse período, de descobertas musicais na nossa vida familiar, descobrimos também a diabetes. Tudo ao mesmo tempo. Ainda lembro, com um pouco de melancolia, de minha filha dizer que só tocaria teclado novamente quando deixasse de furar seus dedinhos. E realmente ela parou de tocar. Ora, tinha que parar. Foi preciso silenciar para ouvir a música que naquele momento, intensamente, invadia nossas vidas. A música de algo que chega sem pedir licença, e fica, invade, ensurdece. A música de algo tão forte, tão desafiador.
Passado um tempo, o tempo de aprender a dançar esse novo som, ela voltou à música. E lançou-se num desafio maior ainda, o piano. Todo mundo tem seu tempo de recomeçar. Todo mundo precisa se ouvir para poder fazer música.
Não sei porque, ainda tenho esse violino. Poderia estar sendo tocado por outro alguém. Mas ele está lá, esperando, para quem sabe um dia ser recomeçado. Na verdade sei, agora, que ele está aqui para me lembrar sempre que a música chegou junto com a diabetes, e que ambas permanecem em nossas vidas. E permanecerão (talvez por isso não consigo passá-lo adiante). E que ambas pedem disponibilidade, dedicação, empenho, força, coragem. E, por que não dizer, que ambas, também, nos proporcionam bem-estar. Com a música nos tornamos mais sensíveis, emotivos, tranquilos. Ficamos mais centrados. Com a diabetes nos tornamos regentes da nossa orquestra pessoal chamada saúde. E, por sinal, quando ela toca afinada é um dos melhores sons da nossa vida.
Abra a mente e os ouvidos para escutá-la, em alto e bom som!!
Aproveite a semana…
Simone Vollbrecht
Psicóloga e Educadora em Diabetes
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