Quem recebe o diagnóstico de doença celíaca, sabe que deverá excluir totalmente da sua dieta alimentos com glúten, uma proteína presente no trigo, na aveia, no centeio, na cevada e em seu derivado, o malte – além de qualquer alimento que contenha alguns deles.
O glúten provoca danos na parede do intestino delgado, impedindo absorção de nutrientes como vitaminas e água. As pessoas que ingerem essa substância, mesmo que em pequenas quantidades, possivelmente vão apresentar diarreia crônica ou prisão de ventre, inchaço, flatulência, irritabilidade e problemas de absorção. Porém, algumas pessoas, apesar de seguirem religiosamente uma dieta restritiva, começam a apresentar erupções na pele que, a princípio, lembram picadas de inseto e em pouco tempo viram bolhas que ardem e coçam bastante. Em alguns casos, elas são acompanhadas pelos sintomas gástricos. Trata-se de uma variação da Doença Celíaca chamada de Dermatite Herpetiforme, que também é desencadeada pela presença do glúten.
Para complicar, mais difícil do que descobrir que o glúten é o causador dessas reações, é saber em que cosméticos ela está presente. A substância está presente em fórmulas para o tratamento do corpo, do rosto, dos lábios e dos cabelos. Um estudo realizado na Universidade George Washington, nos Estados Unidos, apresentado no último Congresso do Colégio Americano de Gastroenterologia, realizado em Washington, descobriu que os fabricantes nem sempre declaram de forma direta a presença do glúten e utilizam uma nomenclatura técnica para descrever o que há dentro da embalagem.
Chegou-se a essa conclusão depois de se buscar a palavra glúten ou a expressão livre de glúten no site das dez maiores companhias de cosméticos do país, Além de dados sobre os ingredientes dos produtos em site independente. O resultado revelou que apenas duas das empresas ofereciam informações detalhadas sobre o que é usado em suas fórmulas. Ainda assim, não conseguiram identificar as fontes da proteína com a ajuda da web. Ou seja, se para os especialistas é um desafio saber em quais itens havia ou não glúten, imagine para os leigos?
No início, os celíacos sofrem para se adaptar à restrição alimentar de uma dieta sem glúten, sem contar que muitas pessoas acham que isso não passa de um capricho ou uma dieta da moda.
Como a dificuldade em se identificar a presença da substância na embalagem, muitas vezes a única alternativa do celíaco é testar os produtos à espera de uma reação. Um procedimento que não é adequado porque desencadeia novas crises e lesões no intestino. O ideal é que esses produtos já viessem com a informação em seus rótulos, assim como nos alimentos.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a ANVISA, reconhece que não há no país uma norma que regularize a forma como as empresas da área devem declarar o uso do glúten em seus produtos. Além de que os rótulos de cosméticos costumam ter seus ingredientes escritos em inglês o que dificulta ainda mais as informações.
O cenário atual leva a crer que infelizmente ainda há um longo caminho até que os celíacos consigam escolher seus cremes, hidratantes e shampoos sem precisar correr o risco de apresentar as reações da doença.
No Brasil, os estudos sobre o assunto são praticamente inexistentes e se percebe por parte dos fabricantes, dificuldade em entender a necessidade de informar a presença de glúten ou partículas de cereais nos compostos de seus produtos. Com isso, no país, pode-se dizer que não existe nenhuma marca considerada totalmente segura para essas pessoas.
O que se torna uma grande dificuldade para se exercer a vaidade e ser consumidor(a) fiel daquilo que não oferece perigo.
Até a próxima!
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