Na minha infância um dos meus tios, Osvaldo, era uma das pessoas mais gordas que eu conhecia. Com 1,80 cm e cerca de 130 kg, meu tio nutria um certo orgulho da própria barriga. Hoje, no entanto, você provavelmente não notaria num sujeito como ele. Isso porque deve conhecer algumas pessoas perto das quais meu tio seria considerado esbelto.
Nós sabemos que a fórmula clássica de redução de peso – mais prática de atividade física, menos comida – funciona por um determinado tempo e depois disso o peso volta a nos rondar. O conhecido “efeito sanfona” é devastador: peso vai e volta.
O metabolismo humano é um sistema complexo, que evolui no sentido de manter nosso peso estável em tempos de abundância e escassez. Como foi, então, que se transformou em um jogo de cara ou caroa em que as opções são “Cara, você ganha peso”, e “Coroa, você ganha ainda mais”?
O problema acontece em uma condição de saúde chamada inflexibilidade metabólica, uma condição que aponta para dieta simples, exercícios e mudanças de estilo de vida, estas que podem ajudar você a emagrecer e continuar magro. Temos duas questões a serem respondidas: Por que o aumento da obesidade em uma única geração não deveria ter acontecido? E como você pode assumir o controle do próprio metabolismo e guiá-lo de forma correta?
Desde o início do século 20, quando a obesidade era incomum até a década de 1980, nossa quantidade per capita de alimento permaneceu mais ou menos a mesma. Por que então o aumento do peso? Reflita lendo abaixo o que acontece em uma alimentação normal:
1) O alimento se torna progressivamente menos apetitoso. Por mais que os primeiros pedaços de bife estejam incríveis, no final você apenas repete os movimentos, de modo automático;
2) O estômago se expande, há liberação do hormônio Grelina, emitindo mensagens químicas ao cérebro, aumentando o hormônio Leptina, pedindo que não se coma mais;
3) O metabolismo se acelera à medida em que o corpo trabalha para transportar o alimento pelo sistema digestivo, queimando 10% das calorias que você acabou de ingerir;
4) Nas próximas horas, e até mesmo dias, o corpo monitora o equilíbrio de energia – a quantidade de calorias que entram e saem. Se você comer mais do que precisa, isso será compensado por um metabolismo mais rápido – seja queimando mais calorias na malhação, seja produzindo mais hormônios, como a Leptina, que reduz o apetite.
O mecanismo também funciona ao contrário. Se cocê consome menos do que o necessário para manter seu peso, seu metabolismo tende a ficar mais lento para preservar energia, e os níveis do hormônio da fome, Grelina, subirão para aumentar o seu apetite.
O objetivo desse sistema é atingir um equilíbrio no qual seja difícil ganhar ou perder peso. Somente estímulos poderosos podem se sobrepor a esse sistema e alterar seu metabolismo para que ele não responda como deveria. Eis que surge o principal adversário: a indústria alimentícia moderna.
Quando a Frito-Lay – dona da Elma Chips – lançou o famoso slogan “é impossível comer um só”, no início dos anos 1960, não foi à toa. Seus cientistas trabalhavam para apagar os limites do nosso apetite, e como sociedade, começamos a burlar sinais de “pare” que haviam existido durante séculos.
Eles descobriram formas de combinar açúcar, sal e gordura para que o “suficiente” nunca fosse realmente suficiente. Nosso metabolismo não estava preparado para contrapor a recompensa hedonista desses novos alimentos. O alimento associado a estimular muitas partes do cérebro, incluindo regiões de recompensa. Ao estimular diretamente esses circuitos de recompensa, você pode ter profundo impacto na preferência alimentar e na gordura corporal.
Os fabricantes tentam maximizar a recompensa. A consequência: somos levados por uma correnteza de alimentos fartamente disponíveis, densos em energia, altamente palatáveis e com alto poder de recompensa. Os alimentos comerciais produzem um estímulo excessivo dessas conexões cerebrais.
Quando comemos volumes massivos de alimentos superestimulantes – um saco de chips regado a um litro de refrigerante, nosso sistema digestivo converte tudo isso em quantidades massivas de glicose sanguínea. É aí que entra o hormônio Insulina. Ele é uma espécie de “porteiro” encarregado de abrir a porta das células para a glicose. Se o nível de glicose estiver muito alto, ela se torna tóxica. O corpo fará o possível para expulsá-la.
Quanto mais tempo o nível de insulina permanecer elevado, menos eficaz ela se torna, e quando menos eficaz ela se tornar, mais longos são os períodos em que seus níveis ficam elevados. A finalidade da insulina é eliminar a glicose do sangue, armazenando-a no corpo. Consequentemente, a insulina inibe nossa capacidade de queimar gordura. Níveis do hormônio cronicamente elevados significam que o corpo está sempre usando menos gordura como fonte de energia do que normalmente usaria, e por isso a gordura se acumula aonde você menos deseja.
O corpo humano foi criado para funcionar com um mix de combustíveis, utilizando, predominantemente, a gordura em repouso ou durante exercícios de baixa intensidade. Na medida em que os exercícios ficam mais difíceis, passamos a uma maior dependência de carboidratos. Se você é metabolicamente flexível, consegue passar facilmente de uma fonte de combustível para outra, aproveitando as abundantes reservas de gordura do corpo e poupando os limitados carboidratos para quando eles forem realmente necessários.
Uma pessoa com níveis cronicamente elevados de insulina vira “inflexível”, queimando carboidratos em excesso o tempo todo e deixando as reservas de gordura intocadas. Um desastre metabólico para um organismo que possui mais gordura do que é capaz de utilizar – um organismo que, em circunstâncias normais, exploraria a gordura como uma reserva subterrânea de petróleo. Os sistemas se esforçam ao máximo para cooperar um com o outro, mas não conseguem.
Até mais!
Muito boa a reportagem. Altamente explicativa! Valeu.
Reportagem excelente,gostaria de ver mais sobre este problema,porque é o que esta acontecendo comigo,não consigo mais emagrecer,mesmo que faca dietas,exercicios pesados não consigo perder nem meio kg,poristo gostei muito da reportagem.