Este mês, comemoramos o Dia da Criança, em 12 de outubro, e o blog Educação em Diabetes vai dedicar um espaço especial para a crianças, em outubro, falando sobre saúde, educação alimentar, diabetes tipo 1, prevenção de diabetes tipo 2 e de outras doenças, atividade física, culinária, comportamento. Tudo o que envolve ou pode envolver o universo infantil e criar hábitos para uma vida saudável.
Para começar, vou puxar um assunto que é uma das grandes preocupações de muitas mamães: a alimentação na escola. Durante muito tempo, a alimentação ficou a cargo da família. As crianças, em sua maioria, passavam quatro a cinco horas na escola, faziam as principais refeições em casa, e levavam o lanchinho de casa para a escola. Com a mulher cada vez mais absorvida pelo mercado de trabalho, grande parte das crianças passou a frequentar a escola em período integral, ou semi-integral. Algumas crianças chegam a fazer todas as refeições na escolinha, do café da manhã ao jantar, passando pelo lanchinhos.
Se antes a escolha da escola estava apenas focada no currículo escolar, a responsabilidade da escolha cresce, ao envolver também as refeições. E esse cuidado vai desde a assepsia até a seleção dos alimentos e montagem de um cardápio equilibrado. Cresce também a responsabilidade da escola que, em conjunto com a família, passa a ser responsável pela educação alimentar; em alguns casos, não muito raros, pela deseducação. Não vejo o currículo dissociado da alimentação. Inclusive, é uma boa oportunidade de se ensinar muita coisa por meio do alimento. E criar bons hábitos nas crianças desde pequenas. E aqui a figura da nutricionista é essencial.
Mas não vale jogar toda a responsabilidade para a escola. Não. Tem de ser um trabalho conjunto. E não vale também a escola negar essa sua nova função. As que não estão preparadas, que se preparem. Ou então que não ofereçam alimentação e passem a oferecer apenas períodos de quatro a cinco horas.
Vejo muitos pais considerarem radical esse cuidado com a alimentação. Ficam com pena que seus filhos e os filhos dos outros sejam “privados” de comer açúcar, de comer doce, fritura, salgadinhos, de tomar refrigerante. Não entendo. Pena de quê? De que estejam criando bons hábitos? De onde veio essa história que criança que come doce é mais feliz? Será que é aí que reside a felicidade? Há os que estão do lado totalmente oposto, e eliminam totalmente tudo o que não é saudável da vida da criança. Confesso que até gostaria de estar nesse último grupo. Mas estou no meio termo. Permito algumas “bobagens”, como chocolate, um brigadeiro ou um doce, de vez em quando, e bem raramente algo frito, como um peixinho. Mas não ofereço de forma alguma: refrigerantes, salgadinhos de pacote, balas… Tem dado certo, porque ele tem consciência de que certas coisas não fazem bem. E o meu filho tem apenas 3 anos.
O que eu não admito é que a escola crie maus hábitos. Já discuti isso algumas vezes em escolas pelas quais ele passou. Por exemplo, ele aprendeu a comer bolacha na escola anterior, aprendeu a tomar suco com açúcar (eu nunca dava com açúcar), e outros hábitos que em nada acrescentam.
Mudei de escola. Ainda não concordo totalmente com algumas coisas que são oferecidas. Mas eu percebo o cuidado. Buscam priorizar alimentos orgânicos. A hora do almoço e do lanche na escola atual é um momento de aprender a ter autonomia, porque ele é encorajado a comer sozinho (o que não acontecia antes); é o momento de compartilhar com os amigos; de experimentar novos alimentos. No lanche, é oferecido um cardápio variado e equilibrado e há todo um ritual: primeiro as frutas, depois o pão e por último o suco. E ele também tem aula de culinária e de hortinha, momentos especiais para aprender mais sobre os alimentos, suas funções e de se envolver nos processos, para criar uma visão mais crítica sobre o que é oferecido.
Aliás, essa visão crítica é um fenômeno muito interessante, que acaba incentivando crianças mais participativas, como a escocesa, Martha Payne, de 9 anos, que criou um blog para falar das merendas da escola. Amanhã, falaremos dela. Aguardem!