Você que controla o diabetes, seu ou de algum familiar, sabe sobre o que vou falar. Daqueles dias em que tudo o que menos queremos saber, ouvir ou lembrar é do diabetes. Do cuidado que ele exige. Do quanto da nossa atenção ele suga. De quanto tempo nos envolvemos com seus pormenores. De quantos pensamentos por dia temos a respeito dele. E não me venha falar que você está no piloto automático, que nem sente mais, que não se importa. Ok, eu também tenho dias assim, de agir como se nada demais estivesse acontecendo. Mas não é sobre isso que quero falar hoje.
O que quero desabafar é sobre os dias em que, sair da mesa para buscar um pote novo de tiras, pois o do estojo está vazio, me cansa. De quando quero comer despreocupadamente, sem precisar contar carboidratos. Ou, então, quando levanto na madrugada para espiar se minha filha dorme bem, e, sem querer acordá-la, verifico sua respiração, se está suando, se precisa medir a glicemia. Ou quando tenho que analisar no supermercado se as informações nutricionais de um produto são melhores ou piores que outro. Ahhh!! Agora você me entendeu?!
Bem vindo ao clube! – e um clube bem grande. Pois é, esses dias não são privilégio só seu. Eles acontecem com todas as pessoas que (con)vivem com o diabetes. São cíclicos, mas não são constantes. São intensos, rápidos, longos, leves. São variados. Mas, antes de tudo são muito pessoais. Cada pessoa sente de um jeito. E o que consola um, talvez não console o outro. Por isso, cada um deve encontrar a melhor forma de superar esses momentos. Penso que um bom caminho seja viver essa fase. Deixar que a raiva, o medo, a indignação e as preocupações se façam conhecidas. Talvez assim fique mais fácil encontrar soluções. Se eu não conheço meus pontos fracos, minhas dificuldades, como farei para melhorá-las, para superá-las? Como fazer os outros compreenderem o que sinto, se nem eu admito para mim o que estou sentindo?
Se você está cansado e estressado com o diabetes, primeiro saiba que você não está sozinho. Isso é muito comum. Acontece comigo, com você e muitas outras pessoas com diabetes. Segundo, você não é uma pessoa pior, por se sentir assim, e nem é irresponsável com a sua saúde. São exigências diárias, preocupações e, por vezes, desapontamentos pessoais, que nos fazem sentir desânimo e irritação. E, por último, saiba que sua situação está longe da catástrofe, existe solução.
O estresse do diabetes pode ser superado. Busque ajuda, compartilhe suas dúvidas e dificuldades. Existem muitas pessoas dispostas a trocar informações, muitos grupos de bate-papo nas redes sociais, muitos blogs que falam do assunto, e são um ótimo meio de aproximação e ajuda. Procure na sua cidade grupos de apoio, associações, entidades e eventos para pessoas com diabetes. Permita-se fazer um acompanhamento emocional. Ou, simplesmente, fazer algo que não tenha nada a ver com o diabetes: dança, pintura, fotografia, música, poesia, artesanato, costura…
Enfim, a maior lição para estar motivado é saber que o estresse por viver com diabetes é normal, comum e pode ser sempre superado (mesmo que ele retorne). Com atenção, cuidado, sensibilidade e humor podemos vencer o cansaço e fazer as pazes com o diabetes. Claro, isso não quer dizer que nós e o diabetes seremos melhores amigos a vida toda. Mas que aprenderemos a viver de maneira que nos ajude a ter não só qualidade de vida, mas também quantidade.
Boa semana!
Simone Del Fabbro Vollbrecht
Psicóloga e Educadora em Diabetes
Nossa me vi em suas palavras….