Você já teve medo de medir sua glicemia?

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Você já teve medo de medir sua glicemia? A pergunta pode parecer sem sentido para quem tem diabetes tipo 1 e tem de monitorar cinco, sete, oito, dez vezes por dia. Já para quem tem diabetes tipo 2 é uma realidade.

Eu sou MODY (não uso insulina) e o meu diabetes se comporta de uma maneira parecida, em alguns aspectos, com o diabetes tipo 2, por isso sei o que estou falando. Eu não tenho grandes variações de glicemia. E, como não uso insulina, não há muito o que eu possa fazer de imediato se a minha glicemia estiver alta. Mesmo assim, considero o controle essencial em qualquer caso. Para que? Para sabermos como o nosso corpo está reagindo aos medicamentos, para sabermos como a alimentação está influenciando o controle, ou se a atividade física está surtindo efeito. O controle se faz necessário para ajustar o nosso comportamento.

Conheço poucas pessoas com diabetes tipo 2 que fazem automonitoramento. E existem vários fatores que contribuem para esse comportamento. Pode ser medo de se deparar com um número alto. Sabe aquele ditado popular que diz que o que “os olhos não vêem o coração não sente”? É meio por aí. Como se o fato de não vermos o estrago que o diabetes, aos poucos vai nos causando, nos poupasse de alguma coisa. Não tem muita lógica, mas confesso que, sim, em alguns momentos, já fugi do glicosímetro por medo. Como se o diabetes nem existisse e bastasse tomar um remedinho e tudo bem. Não é assim! Quando a gente sabe que não está seguindo o tratamento à risca, temos essa tendência de evitar o monitoramento. Temos de tomar cuidado, porque isso pode significar um abandono de nós mesmos. Quando nos comportamos assim, estamos nos deixando levar pela sorte. Mas com diabetes, não se brinca. Não há sorte que dê jeito.

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Outro fator que pode levar à falta de automonitoramento constante é a falta de informação sobre a necessidade deste hábito em nossa vida. A maioria das pessoas que tem diabetes tipo 2 não sabe da necessidade de medir glicose com frequência. Faz lá um exame de glicemia de jejum a cada seis meses e acha que está bom assim. Muitas vezes, o médico nem pede a hemoglobina glicada. Conheço até pessoas que desconhecem o que seria esse exame. Escuto muito: “minha diabetes é baixinha, a última deu 120, ou 140”. Não importa o número. Se o resultado foi um pouco mais baixo, pode ser que tenha sido porque o exame foi realizado em um dia em que você se comportou melhor no dia anterior, cuidou mais da alimentação, fez atividade física. Isso não quer dizer que ela se mantenha assim todos os dias.

A verdade é que não existe um consenso sobre a indicação de automonitoramento em pacientes com diabetes não-insulino dependente. E, muitas vezes, as pessoas não sabem o que fazer com a informação. No tipo 1, se o glicemia der alta, há como realizar a correção. Para se alimentar, você calcula o que vai ingerir de carboidrato e aplica insulina para que não haja um impacto muito grande na glicemia. Já o diabetes tipo 2 depende muito mais de uma dieta apropriada, de prática de atividade física, de qualidade de vida. Um estudo publicado em 2008 na BMJ mostrou que pessoas com diabetes tipo 2 se sentem frustradas com o automonitoramento quando a glicemia se mantém alta. E relatam que, muitas vezes, o médico não se interesse em ver suas anotações.

O que eu falo sobre a importância do automonitoramento é por experiência própria e por observação. É porque eu tenho uma profissional que me cobra o automonitoramento para ajuste do tratamento. O automonitoramento, para mim, tem um efeito positivo, porque sei o quanto tenho de me cuidar.

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