Semana passada, lancei uma questão nos grupos de diabetes do Facebook sobre quais os assuntos que as pessoas gostariam de ver postado aqui no blog Educação em Diabetes e um dos temas mais citados foi o diabetes na adolescência. As mães relatam que o controle fica mais complicado por diversos fatores.
Entre os fatores que mais influenciam o controle, há o hormonal, mas também, e principalmente, a questão psicológica e social. É a fase em que os cuidados são transferidos dos pais para o filho ou filha. É a idade dos conflitos e de ultrapassar limites, de se testar. E o diabetes, muitas vezes, é visto como um fator limitador. Comportamentos de risco, muitas vezes, são mais frequentes nessa fase.
Para esclarecer as principais questões, trazemos, hoje, um artigo do pediatra especialista em endocrinologia, Rafael Mantovani. Boa leitura.
O diabetes na adolescência
Artigo publicado originalmente do site da Sociedade Brasileira de Diabetes *
A adolescência, segundo definição da Organização Mundial de Saúde, é o período compreendido entre os 10 e 19 anos de idade, época de transição da infância à idade adulta, quando ocorrem mudanças físicas, psicológicas e socioculturais.
Dentre as principais mudanças físicas, pode-se citar o estirão do crescimento, as mudanças na composição corporal e o desenvolvimento sexual, ou puberdade, processo que capacita o indivíduo à reprodução, a partir do desenvolvimento dos órgãos reprodutores e caracteres sexuais secundários.
O diabetes mellitus tem um pico de incidência na adolescência e, por outro lado, geralmente representa um período de difícil controle da doença, motivo pelo qual é necessário que haja uma abordagem específica e multiprofissional pela equipe de saúde. Alguns estudos indicam que o pior controle metabólico do diabetes na adolescência gera um maior número de internações hospitalares por cetoacidose e uma maior incidência de retinopatia.
A dificuldade de controle da glicemia na adolescência, geralmente maior que na infância e na idade adulta, tende a ser mais evidente em meninas e, com frequência, há um ganho excessivo de peso associado. A dificuldade de controle metabólico nessa época da vida deve-se a vários fatores, tanto fisiológicos quanto psicossociais.
Dentre o primeiro grupo de fatores, encontra-se a diminuição da sensibilidade à insulina, processo fisiológico que ocorre durante a adolescência, sendo significativamente mais acentuado nos adolescentes diabéticos. A origem da maior resistência à insulina nesse período da vida é multifatorial, resultado do aumento da concentração de alguns hormônios, como o hormônio do crescimento (GH), os esteróides sexuais, a insulina e o IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina-1).
No entanto, os fatores psicossociais parecem ser os principais responsáveis pela piora do controle metabólico durante a adolescência. A evolução natural do desenvolvimento psicológico durante essa época da vida, assim como as várias atividades sociais próprias da idade – dentre as quais alguns comportamentos de risco – frequentemente entram em conflito direto com as “exigências” da vida com diabetes. Nesse sentido, a participação da família é extremamente importante, já que o equilíbrio familiar se relaciona significativamente com o controle metabólico.
Alguns pontos específicos que afetam diretamente o tratamento têm grande importância e repercutem de forma decisiva na vida do adolescente com diabetes, como os horários de se alimentar e de dormir, o reconhecimento do diabetes frente aos amigos e os cuidados para se evitar a hipoglicemia durante a prática de exercícios físicos.
Quanto à estratégia para controlar o diabetes na adolescência, citam-se a intervenção farmacológica e o apoio psicossocial.
Do ponto de vista farmacológico, é indicado o tratamento intensivo, com múltiplas doses de insulina ou com o sistema de infusão contínua de insulina (“bomba de insulina”), juntamente com a monitorização frequente da glicemia capilar. Além disso, recomenda-se uma alimentação equilibrada e cuidadosamente planejada, com o objetivo de se obter uma melhora do controle metabólico, sem aumentar o risco de hipoglicemia grave, o que reduz o risco de complicações em longo prazo.
Uma opção para algumas situações específicas é o tratamento adjunto com a metformina, medicamento cujo efeito hipoglicemiante deve-se à diminuição da liberação hepática de glicose e do aumento da sensibilidade dos tecidos periféricos à insulina.
A falta de disciplina alimentar pode ser, em parte, controlada com o uso de análogos de insulina de ação lenta (glargina ou detemir), sem os grandes picos de ação da insulina NPH, ou mesmo com o uso da bomba de insulina. Assim, o diabético terá maior liberdade para organizar sua rotina alimentar, como por exemplo, acordar mais tarde nos fins de semana, sem a obrigação de tomar o café-da-manhã no horário predeterminado.
Os planos alimentar e de insulinoterapia devem ser prescritos levando-se em consideração o nível de atividade física do adolescente. Nesse sentido, ressalta-se a importância que a atividade física regular e supervisionada tem, não só para o controle glicêmico, mas para o bem-estar e prevenção de outros fatores de risco cardiovascular. A monitorização glicêmica deve ser individualizada para o tipo de exercício e cuidados devem ser tomados para se evitar eventos hipoglicêmicos durante e após a atividade física (o que pode ocorrer muitas horas depois).
É de grande importância que haja uma boa interação entre o diabético, sua família e a equipe multiprofissional. Além do apoio técnico, nutricional e psicológico, é indispensável que haja um progressivo reconhecimento do adolescente como o sujeito principal do tratamento, com autonomia não só para a monitorização glicêmica e administração de insulina, mas para a vida.
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Dr. Rafael Mantovani
Médico Especialista em Endocrinologia Pediátrica. Membro da Divisão de Endocrinologia da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da UFMG
*Reprodução autorizada pelo autor
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Essa reportagem foi bastante esclarecedora. Tenho uma filha adolescente e que tem diabete desde os 5 anos de idade. Obrigada.