Crônica do desapego

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Mudar não é fácil, mas é necessário. Mudar pode ser trabalhoso. Mas também pode nos aliviar do passado. Mudar é bom, nos tira do prumo e nos acorda pra vida. Há poucas semanas me mudei. De casa e de ânimo. Saí do prumo e acordei pra vida, literalmente. E entre caixas e caixas de coisas, fiz algumas descobertas. Descobri, por exemplo, que podia viver com bem pouco.

Eu já tinha uma desconfiança, pois nunca tive vocação para perua, ou acumuladora. Mas dessa vez, comprovei na prática. Na casa nova, meu guarda-roupa não existia (era uma casa muito engraçada, não tinha armário, não tinha nada…”). No apartamento anterior os roupeiros eram embutidos, ou seja, teríamos que fazer uma aquisição para a casa nova. Herdei um roupeiro antigo de minha avó, que foi todo restaurado (os ecologistas recomendam). Mas, claro teria que comprar mais outro, pois só neste roupeiro não caberiam as minhas roupas e mais as do meu marido. Armários antigos são menores. As pessoas tinham menos roupas, e também menos neuras e preocupações.

O outro armário que foi comprado, para compor o conjunto, ainda não chegou. Pronta-entrega é luxo hoje em dia. Resumindo, como tudo não cabia neste único armário, deveríamos fazer uma divisão. Deixei um espaço maior para meu marido, pois ele usa terno para trabalhar e precisava pendurar camisas, gravatas, casacos… (depois dizem que as mulheres são cheias de frescura). Então, tive que selecionar algumas roupas básicas e de trabalho para poder seguir vivendo. Ajeitei tudo em duas prateleiras. E alguns cabides junto aos ternos e camisas dele. O resto ainda está dentro das caixas. Eu olho para elas e penso: como é tranquilo viver com menos. Menos exagero, menos opções. Porque ter opções demais cansa. Nos faz ficar em dúvida constantemente.

Nos angustia, nos fragiliza. Com menos opções eu abro a porta do armário e tenho duas prateleiras para focar meus objetivos, e escolher. Ou é isto, ou aquilo. Não tem espaço para o “talvez”, ou o “quem sabe”. Claro, também sou de me apegar. Tenho minhas roupas preferidas, e cheias de histórias afetivas. Amo alguns pares de sapato. E não passo o inverno sem meus blusões de lã. Mas atualmente, olhar as caixas cheias de coisas guardadas não me angustia, ou me deixa irritada. Olhar para elas me fez perceber que posso continuar sendo a mesma pessoa, com menos. Que o que realmente importa está dentro da gente, e não fora. O que está fora pode ficar jogado por aí, num canto qualquer, quase esquecido, dentro de uma caixa de papelão. O que realmente tem sentido e significado fica com a gente, nas entranhas, no coração. É essa vestimenta que mais preciso todos os dias, é ela que me cai bem, o desapego.

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Bom final de semana…

Simone Del Fabbro Vollbrecht

Psicóloga e Educadora em Diabetes

 

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